Farmacoeconomia: compreendendo conceitos e os benefícios de lipegfilgrastim para um tratamento mais acessível

Entenda quais são as vantagens farmacoeconômicas de lipegfilgrastim em comparação com outros tratamentos de suporte para o câncer

O que é Farmacoeconomia?

O conceito de farmacoeconomia é a ciência que atua e tem por objetivos identificar, medir e comparar os custos (os recursos consumidos) e os resultados (efetividade, qualidade de vida, utilidade, eficácia, segurança, morbidade e mortalidade) da utilização dos medicamentos. A farmacoeconomia é, portanto, a aplicação da economia da saúde especificamente aos medicamentos, e não pode ser considerada uma ciência ou técnica individualizada.1

Nas análises farmacoeconômicas, para fins de cálculo, são utilizados dois tipos de custos, os diretos e os indiretos, e que podem se desdobrar em tangíveis e intangíveis.1 

Custos diretos e indiretos, tangíveis e intangíveis

Os custos diretos são pagos diretamente pelo serviço de saúde, incluindo os custos de mão-de-obra, exames e medicamentos. São aqueles que implicam dispêndios imediatos, de identificação objetiva, correspondendo aos cuidados médicos e não médicos.  Os custos diretos médicos contemplam produtos e serviços desenvolvidos para prevenir, detectar e/ou tratar uma doença, como por exemplo, os honorários profissionais. Os custos diretos não médicos são decorrentes da doença, resultam do processo de adoecimento, mas não envolvem os serviços médicos (custo de alimentação, transporte, residência temporária, entre outros).1

Os custos indiretos, são aqueles experimentados pelo paciente (ou também a família e amigos) ou a sociedade. Incluem a perda de rendimentos ou a perda de produtividade. São de difícil medição, mas afetam a sociedade como um todo. São relacionados à perda da capacidade produtiva do indivíduo devido ao  processo de adoecimento ou mortalidade precoce. Eles representam dias de trabalho perdidos, incapacidade de realizar as atividades profissionais, tempo gasto em viagens para receber cuidado médico e morte prematura decorrente da doença.1 

Os custos tangíveis são aqueles possíveis de serem mensurados, sejam em unidades monetárias (custo da internação hospitalar, custo com aquisição de medicamentos, hora de trabalho de profissionais de saúde, custo de próteses e órteses, materiais para saúde utilizados nos procedimentos).1

Os custos intangíveis são aqueles não quantificáveis em unidades mensuráveis. Referem-se, por exemplo, à dor e ao estresse que os pacientes sofrem, além de afetar pessoas próximas dele. Esses custos podem ser impossíveis de mensurar em termos monetários e não são muitas vezes considerados na economia. Referem-se aos custos psicológicos da doença (ansiedade e depressão), custo psicológico associado à perda de trabalho ou incapacidade de trabalhar, da dependência física, do isolamento social, dos conflitos familiares, da dor, da alteração de suas atividades da vida diária, da piora da qualidade de vida. Embora muito importantes para os pacientes, ainda necessitam de significado econômico.1

Aplicação de análise econômica nos medicamentos

Existem quatro tipos de análise econômica que podem ser aplicados aos medicamentos: minimização dos custos, custo-efetividade, custo-utilidade e custo-benefício. Cada tipo de análise compara os custos e as consequências da utilização de diferentes medicamentos (ou outros tratamentos) na terapêutica de uma determinada situação patológica.1

O mais simples dos quatro métodos é a análise da minimização dos custos, mediante a qual, com base em uma igual eficiência clínica dos medicamentos em estudo, são comparados os seus custos. Por exemplo, um medicamento mais barato que outro, mas que necessita de uma administração mais frequente por técnico especializado ou que requer controle laboratorial para avaliação dos níveis plasmáticos, tem custos adicionais que podem ultrapassar o diferencial dos preços de base. As análises de minimização de custos têm sido utilizadas também para avaliar a substituição de medicamentos referência por medicamentos genéricos, em que os resultados podem ser utilizados como fonte de economicidade por prescritores e farmacêuticos na prática clínica.1

No caso de medicamentos com diferentes resultados terapêuticos, a análise econômica pode utilizar um estudo de custo-efetividade. Os resultados terapêuticos em análise devem ser expressos e comparados nas mesmas unidades naturais de benefício, por exemplo, redução dos dias de incapacidade laboral. Essa análise deve avaliar o aumento dos benefícios terapêuticos e decidir se esses benefícios adicionais valem os custos. Assim, pode-se comparar e analisar a custo-efetividade marginal de várias terapêuticas com um tratamento padrão.1

A análise custo-utilidade é mais elaborada que a custo-efetividade porque inclui comparações na mesma área terapêutica e em outras em termos do seu impacto na sobrevivência e na qualidade de vida. Ela procura sintetizar múltiplas observações em uma única medida, como o impacto dos medicamentos na morbidade e na mortalidade ou o impacto dos medicamentos na dor e na incapacidade funcional. Os resultados terapêuticos obtidos são, por sua vez, avaliados com base na preferência pessoal para o estado de saúde. A medida mais conhecida resultante dessa forma de análise econômica é a qualidade ajustada por ano de vida, ou QALY. A dificuldade em comparar QALYs por conta da variabilidade das preferências individuais tem conduzido a sérias críticas à utilização desse método de análise. A análise custo-utilidade raramente tem sido utilizada em estudos com medicamentos.1

Na análise custo-benefício, tanto os custos como os benefícios são medidos em termos monetários. Essa quantificação em termos pecuniários do sofrimento e da vida humana cria problemas éticos, razão pela qual esse tipo de análise econômica tem sido amplamente contestado.1

Lipegfilgrastim: segurança, eficácia e vantagens farmacoeconômicas

Neutropenia e neutropenia febril (NF) são toxicidades frequentes e potencialmente fatais dos tratamentos antineoplásicos mielossupressores.2 A introdução de fatores estimuladores de colônias de granulócitos (G-CSFs) na prática clínica reduziu notavelmente a duração e a gravidade da neutropenia, bem como a incidência de NF, permitindo a administração de agentes quimioterápicos na dose e no tempo ideais com menor risco.3 O cenário atual de G-CSFs na Europa inclui filgrastim, lenograstim, alguns biossimilares de G-CSF, pegfilgrastim e lipegfilgrastim.4 O lipegfilgrastim é o único G-CSF glicopeguilado e demonstrou em estudos randomizados ser equivalente ao pegfilgrastim na redução de neutropenia e da NF em pacientes com câncer de mama recebendo quimioterapia, com um perfil de segurança semelhante.5 Além disso, o lipegfilgrastim foi mais eficaz que o placebo na redução de neutropenia grave, sua duração e tempo para recuperação da contagem absoluta de neutrófilos em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas recebendo terapia mielossupressora, sendo que esse resultado foi um desfecho secundário do estudo.5 O lipegfilgrastim demonstrou em vários estudos científicos ser medicamento extremamente eficaz  no manejo da neutropenia induzida por quimioterapia e que pode ser utilizado no manejo da neutropenia em pacientes submetidos à quimioterapia quando o G-CSF de ação prolongada for considerado a melhor escolha entre as opções disponíveis.5

Em um estudo científico realizado em 2018, a lipegfilgrastim foi considerado uma alternativa custo-efetiva comparada com pegfilgrastim como profilaxia primária em mulheres com câncer de mama em estágio inicial. A análise de sensibilidade mostrou que o intervalo de confiança para os resultados de custo e benefício demonstrou a superioridade de custo-efetividade do lipegfilgrastim.6

Em uma análise de custo-efetividade de estratégias de tratamento profilático para reduzir a incidência de NF em pacientes com câncer de mama em estágio inicial ou linfoma não Hodgkin, encontrou grandes vantagens farmacoeconômicas para lipegfilgrastim. Uma grande vantagem farmacoeconômica apontada é que, enquanto o lipegfilgrastim requer apenas uma administração por ciclo de quimioterapia, filgrastim requer administração diária até que as contagens de neutrófilos se recuperem, e isso impacta no custo e na qualidade de vida dos pacientes.7 Nesse estudo, , a profilaxia primária demonstrou ser custo-efetivo em comparação com outras estratégias de profilaxia em pacientes com câncer de mama em estágio II ou LNH em um limite de € 30.000/QALY.7

No estudo conduzido por Wang e col, em 2015, foi analisado o impacto da profilaxia primária com fatores estimuladores de colônias de granulócitos na NF durante a quimioterapia a partir de uma revisão sistemática e metanálise de ensaios clínicos randomizados.8 Nesse estudo, ficou demonstrado que o tratamento da profilaxia primária com fatores estimuladores de colônias de granulócitos reduziu o risco de NF em pacientes recebendo quimioterapia mielossupressora.8

Três estudos forneceram evidências diretas para a eficácia da profilaxia primária com lipegfilgrastim:9um estudo de fase 2 e um estudo de fase 3 em pacientes com câncer de mama recebendo doxorrubicina e docetaxel, e lipegfilgrastim versus placebo, e um estudo de fase 3 em pacientes com câncer de pulmão de células recebendo cisplatina/etoposido. Novos estudos estão sendo realizados para profilaxia primária com lipegfilgrastim, ampliando os tipos de tumor e agentes quimioterápicos sobre o efeito do tratamento com esse medicamento. Esses estudos foram utilizados, inclusive, para registro do medicamento Lonquex na Comunidade Europeia, por meio da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), a qual é conhecida pela rigidez nas aprovações.9 Todos os resultados encontrados até o momento demonstram sua eficácia, segurança e vantagens farmacoeconômicas.9

Referências bibliográficas

  1. Bisson, MP. Farmácia Clínica & Atenção Farmacêutica. 4. ed. - Santana de Parnaíba (SP): Manole, 2021.
  2. Klastersky J, de Naurois J, Rolston K, Rapoport B, Maschmeyer G, Aapro M, et al. ESMO Guidelines Working Group. Management of febrile neutropenia: ESMO clinical practice guidelines. Ann Oncol 2016;27(suppl 5):v111-8.
  3. Trillet-Lenoir V, Green J, Manegold C, Von Pawel J, Gatzemeier U, Lebeau B, et al. Recombinant granulocyte colony stimulating factor reduces the infectious complications of cytotoxic chemotherapy. Eur J Cancer 1993;29A(3):319-24.
  4. Hosing C. Hematopoietic stem cell mobilization with G-CSF. Methods Mol Biol. 2012;904:37-47.
  5. Guariglia R, Martorelli MC, Lerose R, Telesca D, Milella MR, Musto P. Lipegfilgrastim in the management of chemotherapy-induced neutropenia of cancer patients. Biologics 2016;10:1-8.
  6. Gao L, Li SC. Cost-effectiveness analysis of lipegfilgrastim as primary prophylaxis in women with breast cancer in Australia: a modelled economic evaluation. Breast Cancer 2018;25(6):671-80.
  7. Fust K, Li X, Maschio M, Villa G, Parthan A, Barron R, et al. Cost-Effectiveness Analysis of Prophylaxis Treatment Strategies to Reduce the Incidence of Febrile Neutropenia in Patients with Early-Stage Breast Cancer or Non-Hodgkin Lymphoma. Pharmacoeconomics 2017;35(4):425-38.
  8. Wang L, Baser O, Kutikova L, Page JH, Barron R. The impact of primary prophylaxis with granulocyte colony-stimulating factors on febrile neutropenia during chemotherapy: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Support Care Cancer 2015;23(11):3131-40.
  9. European Medicines Agency Committee for Medicinal Products for Human Use (CHMP) (2013) Assessment report: Lonquex [acesso em 25 maio 2023]. Disponível em: http://www.ema.europa.eu/docs/en_GB/document_library/EPAR_-_Public_assessment_report/human/002556/WC500148382.pdf.